Quem vai ficar com as
crianças?
Tenho recebido mensagens de pais -de mães, principalmente-
que comentam as consequências que as férias escolares dos filhos provocam em
suas vidas, levantam questões e manifestam dúvidas sobre o que fazer com as
crianças durante o recesso.
Muitos deles perguntam se faz mal para a criança frequentar
a escola nessa época, já que muitas delas oferecem recreação e cursos
extracurriculares para a criançada ter o que fazer ou com quem ficar enquanto
os pais trabalham.
Outros questionam se a criança precisa mesmo passar tanto
tempo sem ir para a escola, sem encontrar seus colegas, sem ter atividades
diferentes para realizar com seu grupo.
Há também os que reclamam. Vou citar uma leitora que,
magoada, contou que havia planejado fazer um cruzeiro em meados do semestre
próximo, mas que, como não encontrou alternativa para o filho, teve de
renunciar ao passeio e marcar suas férias para o mês de janeiro, sem direito de
viajar sozinha.
Alguns pais perguntam a partir de qual idade a criança pode
ir para um acampamento, outros querem dicas do que inventar para os filhos
fazerem em casa, perguntam se devem manter rotina, hora de sono, tempo no
videogame ou computador, escola de esportes etc.
Há dúvidas de todo tipo. Então, vamos ajudar a esclarecê-las
antes de refletir a respeito do tema.
Ir para a escola quando a maioria dos colegas não está lá
não deve ser muito agradável para crianças, não acha, leitor? Além disso,
deixar sua casa quando não é necessário -as crianças sabem o significado de
férias- é custoso para elas.
Descansar dos adultos que trabalham na escola, do ambiente
físico, das regras que lá existem, tais como hora de se alimentar, de trocar de
roupa etc., é revigorante. Você não gostaria de passar dias de suas férias em
seu local de trabalho, não é verdade?
À escola a criança vai para aprender. Mesmo no ciclo da
educação infantil, o brincar da criança é diferente e promove o aprendizado.
Nem sempre sabemos dizer o que ela está aprendendo, mas que aprende, aprende. E
isso é exaustivo. Por isso, a criança precisa de férias escolares, mesmo quando
pequena.
Ter filhos significa ter de renunciar, mesmo que
temporariamente, a diversas coisas. Reclamar não é produtivo, já que o desejo
de ter filhos foi dos próprios pais.
É recente essa ânsia dos adultos de criar programação para
os filhos. Eles mesmos podem fazer isso, mas só se tiverem tempo para o ócio.
Claro que, depois de viver apenas com os adultos dirigindo suas atividades,
eles estranharão um pouco, mas vão aprender o quanto é valioso serem donos de
seu tempo, de suas escolhas, da ordem de seus afazeres.
Por último, vale a pena pensarmos nos motivos que levaram
muitos pais a tratar as férias dos filhos como um problema. Talvez, seja
difícil saber o que fazer com as crianças sem a mediação dos horários rígidos e
dos compromissos da agenda escolar. Talvez, seja mais difícil ainda conviver
com os filhos por períodos maiores do que os pais estão acostumados.
A partir de quando ficar com os filhos em casa
transformou-se em um problema? Desde o momento em que ter filhos passou a ser
uma ideia diferente da de acompanhar a vida de uma criança, cuidar dela,
dedicar-se a ela, ficar disponível para o que possa acontecer; desde que
passamos a querer viver com filhos do mesmo modo que vivíamos antes de tê-los.
A partir do momento em que nossa vida desobrigada deles parece ser muito mais
sedutora.
Por que temos filhos?
ROSELY SAYÃO é psicóloga e autora de "Como Educar Meu
Filho?" (Publifolha)
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